21 dezembro, 2010

Um domingo qualquer



                Não durma, vista-se confortavelmente para uma longa viagem, coloque no rosto sua expressão mais sociável, segure no braço de sua melhor amiga e descubra a primeira lição do dia: com um biquíni, celular e dinheiro poderemos ganhar o mundo.
                Então, em um fretado qualquer com apresentações a parte, invada a viagem de formatura que algumas pessoas resolveram comemorar. Em seguida siga para o mar, descobrindo então, que a música e um sorriso travesso poderão unir destinos, que nunca antes sonharam em se encontrar. Agora, desliguem os celulares, ou ao menos desligue o seu e convença alguém ao seu redor a curtir o momento em que estão. Desligue-se da hora, do tempo, do espaço, deixando para trás histórias, problemas mal resolvidos e travesseiros solitários, ás vezes isso só te ajuda a pensar melhor, em outras talvez não..
                Apaixone-se por um desconhecido, com a intensidade de um passado quando chega batendo na porta, mas com a duração de apenas vinte e quatro horas. E claro, não beije-o, pois acredite, a lembrança do calor da expectativa é um tanto quanto mais saborosa do que a de dever cumprido.
                Na praia caminhe sem rumo, enquanto espera o nascer do sol. Ali, descubra que alguns abraços podem ser mais confortáveis e perturbadores que o de pessoas que conhece há anos, mas não pense nisto ainda... É cedo, precisara comer e dormir antes de colocar as idéias em seu devido lugar. Enquanto isso converse com todos ao seu redor, descubra sonhos, histórias e coisas aleatórias que te façam rir, e ver que a vida pode sim ser bem maior de que seus sonhos imaginam.
                Durma em uma cama gigante com sua melhor amiga, na casa de uma até então desconhecida, mas durma que nem criança quando brinca o dia inteiro, durma para valer, já que ao levantar novos recomeços bateram a porta, hora de voltar para praia.
                Enfim, hora de aprender sua segunda lição: quando se revolve ficar numa barraca, e aparece com uma garrafa de Coca-Cola comprada em outro lugar, o tiozinho poderá roubar metade de suas cadeiras de praia. Assim, logo também aprenderemos a terceira lição: ao comprar o prato de camarão na barraca, as cadeiras voltam, o guarda-sol aumenta e o sorriso do tiozinho melhora, definitivamente, cativar seus clientes não era seu forte.
                Após as lições, experimente fumar narguilé como se nunca tivesse feito isto, tome uma espanhola como se fosse uma novidade, alugue uma bicicleta para brincar de ser criança, faça uma tatuagem de rena e convença pessoas a fazerem com você, sorria. Forme uma grande roda ao som de um violão, cante canções conhecidas por todos, descubra sem querer os pontos fracos da sua pequena nova paixão e deixa-a adormecer em seu colo.
                No fim da tarde, brigue com sua melhor amiga e ainda assim saia para almoçar com ela coisas diferentes, sorria ao ver que está atrasada a tal ponto que o fretado irá te pegar no caminho, nesta brincadeira tente não esquecer coisas importantes para trás, pode ser perturbador.  Então, durma no colo de um pequeno desconhecido, quando estiver meia hora antes de chegar ao seu destino, beije-o, e surpreenda-se. Assim, quando lhe perguntarem como foi seu final de semana, diga que está recheado de histórias de verão para se sonhar.

Juliana Barbosa - Xoxo


05 dezembro, 2010

Poesia Matemática

"Às folhas tantas
Do livro matemático
Um quoeficiente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base,
Uma figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo otogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela a dela
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma dos quadrados dos catetos
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
- O que, em aritmética, corresponde
A almas irmãs -
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Retas, curvas, círculos e linhas sinoidais.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclideanas
E os exegetas do Universo Finito
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim, resolveram se casar
Construir um lar.
Mais que um lar,
Uma perpendicular. (...)"

Millôr Fernandes